Às vezes gostava de não ser eu.
Gostava de ser outra pessoa.
Gostava de ser uma desconhecida.
E, na verdade, às vezes sinto-me como uma desconhecida.
Não para os outros mas sim para mim.
Sinto que me conheço sem me conhecer.
Por vezes uma mudança é uma tentativa de ser outro alguém.
Uma simples maquilhagem, uma cor de cabelo diferente, um modo de vestir alterado.
Resulta, num espaço de tempo mínimo.
Queria que me olhassem e se perguntassem: de onde vem, que histórias traz, o que pensa, o que faz, porquê. Quem é ela?
Mas quem lhes poderia responder se nem eu própria sei quem sou?
Julgo que me conheço mas será que conheço mesmo?
Daí vem a necessidade de ser outra pessoa, de criar outra identidade.
Descobrir quem sou escondendo o meu verdadeiro eu.
Mas uma mudança não oculta o passado, não muda quem realmente somos e o que passámos.
Depois apercebo-me de que todos os dias sou uma desconhecida.
Todos os dias tenho uma nova identidade.
Rio e sorrio como se fosse a pessoa mais feliz à face da Terra mas o meu coração pode estar a sofrer.
Alego estar cansada quando o que quero mesmo é correr para longe de tudo e todos.
Um simples “está tudo bem” tem oculto um complicado “abraça-me e salva-me”.
Uma frase banal carrega o mais profundo silêncio.
O silêncio esconde as mais sinceras palavras.
Isto poderia fazer de mim uma pessoa falsa. Uma mentirosa.
Mas não faz.
Apenas faz de mim humana.
E por ser humana todos julgam conhecer-me.
Mas não me conhecem.
Como podem conhecer-me sem nem eu me conheço?
Afinal…quem sou eu?
© Fox 2017 #69Letras